
A fototerapia veterinária é um tratamento que utiliza feixes de luz para estimular processos naturais de recuperação no organismo dos animais.
Mais do que um recurso moderno, ela já é aplicada em clínicas e hospitais veterinários para acelerar a cicatrização, aliviar dores e melhorar a qualidade de vida de cães, gatos e até animais de grande porte.
Mas afinal, como a luz consegue influenciar tecidos, músculos e até a resposta imunológica?
A resposta envolve bioquímica, física e muita precisão na escolha dos comprimentos de onda.
E é justamente aí que muitos se surpreendem: não se trata apenas de “iluminar” a pele do animal.
Aqui você vai entender como essa técnica funciona, quais tipos de luz são usados, para quais casos é indicada e por que tantos profissionais a incorporam ao dia a dia clínico.
O que é fototerapia?
A fototerapia veterinária é uma técnica que utiliza luz de comprimentos de onda específicos (como a luz vermelha, infravermelha ou azul) para estimular processos de reparo e modulação no organismo dos animais.
Essa luz interage com as células, especialmente com as mitocôndrias, promovendo a produção de energia (ATP), melhorando a circulação local e reduzindo a inflamação.
Na prática, isso significa que podemos auxiliar na recuperação de feridas, acelerar a cicatrização após cirurgias, aliviar dores musculares ou articulares e até melhorar a resposta do organismo em doenças de pele.
Tudo de forma não invasiva, indolor e sem efeitos colaterais significativos.
Como a fototerapia funciona?
A fototerapia atua por meio de um processo chamado fotobiomodulação.
Quando aplicamos a luz com o comprimento de onda adequado sobre a pele do animal, os fótons penetram nos tecidos e são absorvidos por estruturas celulares específicas, como a citocromo c oxidase dentro das mitocôndrias.
Esse estímulo desencadeia reações bioquímicas que aumentam a produção de energia celular (ATP), melhoram o fluxo sanguíneo e modulam a resposta inflamatória.
Isso não é apenas teoria: no dia a dia clínico, vejo como essas reações se traduzem em benefícios práticos.
Outro ponto importante é que cada comprimento de onda tem profundidade e efeitos diferentes.
A luz vermelha atua mais na superfície, sendo útil para pele e feridas, enquanto a luz infravermelha penetra mais profundamente, atingindo músculos, articulações e tecidos internos.
Já a luz azul, além de ajudar na cicatrização, possui ação antimicrobiana, importante em casos de infecções de pele.

Tipos de luz usados
Na fototerapia veterinária, escolhemos o tipo de luz de acordo com o efeito desejado e a profundidade que precisamos atingir nos tecidos.
A escolha do tipo de luz (ou a combinação delas) é feita considerando o diagnóstico, a espécie, o porte do animal e a profundidade do tecido a ser tratado.
Os tipos de luz mais comuns na fototerapia são:
Luz vermelha (por volta de 630–660 nm)
Atua principalmente nas camadas superficiais da pele. É indicada para acelerar a cicatrização de feridas, reduzir inflamações superficiais e estimular a regeneração de tecidos.
Uso muito em lesões cutâneas e feridas cirúrgicas recentes.
Luz infravermelha (por volta de 800–1000 nm)
Penetra mais profundamente, alcançando músculos, articulações e estruturas internas.
É excelente para dores crônicas, inflamações articulares e recuperação de lesões musculoesqueléticas.
Em um paciente com tendinite, por exemplo, o infravermelho ajuda a reduzir o inchaço e melhorar a mobilidade.
Luz azul (cerca de 470 nm)
Tem ação antimicrobiana e ajuda no controle de infecções de pele. É útil em casos de dermatites bacterianas ou fúngicas.
Já tratei um cão com infecção secundária a uma coceira crônica, e a luz azul foi fundamental para controlar o quadro junto com o tratamento clínico.
LASER terapêutico
Embora também use luz, é mais concentrado e coerente, permitindo maior precisão na entrega da energia.
Costuma ser usado em conjunto com o LED para potencializar resultados.
Diferença entre fototerapia e laser terapêutico
Muita gente pensa que fototerapia e laser terapêutico são a mesma coisa, mas há diferenças importantes.
A fototerapia é um termo mais amplo que engloba qualquer tratamento que utilize luz com fins terapêuticos (incluindo LEDs e LASERs).
Ela pode empregar diferentes comprimentos de onda (vermelho, infravermelho, azul) para alcançar efeitos variados, como cicatrização, controle de dor e redução de inflamação.
Já o laser terapêutico é um tipo específico de fototerapia. Ele produz um feixe de luz monocromático, coerente e colimado, ou seja, com um único comprimento de onda, alta precisão e mínima dispersão.
Essa característica permite atingir áreas mais profundas com maior concentração de energia, sendo muito útil em tratamentos musculoesqueléticos, articulares e até em pontos específicos de acupuntura.

Benefícios e Indicações Clínicas
A fototerapia veterinária é uma das ferramentas mais versáteis que utilizo no atendimento.
Ela pode ser aplicada em diferentes fases do tratamento, desde o controle inicial da dor até a reabilitação completa do paciente.
Por ser não invasiva e praticamente indolor, é bem aceita por cães, gatos e até animais mais sensíveis.
Na prática, a fototerapia veterinária ajuda a:
- Reduzir a dor de forma rápida e segura.
- Diminuir inflamações sem o uso de medicamentos.
- Acelerar a cicatrização de feridas e tecidos lesionados.
- Melhorar a mobilidade em casos de doenças articulares.
- Potencializar outros tratamentos, como fisioterapia e acupuntura.
Vamos ver em quais situações ela costuma trazer os melhores resultados.
Feridas e cicatrização
A fototerapia estimula a formação de colágeno e melhora a circulação local, acelerando o fechamento de feridas.
Isso vale para cortes, queimaduras, lesões cirúrgicas e até feridas crônicas.
Um exemplo marcante foi o de uma cadela com uma ferida abdominal que, com sessões regulares, cicatrizou em menos da metade do tempo previsto.
Problemas musculoesqueléticos
Em casos de distensões, tendinites, luxações ou lesões em ligamentos, a luz infravermelha é especialmente eficaz.
Ela reduz o inchaço e melhora a função muscular, permitindo que o animal volte a se movimentar com menos desconforto.
Inflamações
A modulação da resposta inflamatória é um dos efeitos mais rápidos da fototerapia.
Em quadros de artrite, por exemplo, noto que muitos pacientes já apresentam melhora nos primeiros dias de aplicação.
Problemas dermatológicos
A luz azul é uma grande aliada no tratamento de dermatites e infecções de pele.
Ela ajuda a controlar bactérias e fungos, reduzindo a coceira e permitindo que a pele se regenere com mais facilidade.
Dores crônicas
Animais idosos com doenças degenerativas, como artrose, encontram na fototerapia um recurso para aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida.
Em muitos casos, conseguimos reduzir a necessidade de analgésicos, o que é especialmente positivo para pacientes com sensibilidade medicamentosa.
Vantagens da fototerapia para o paciente
Uma das coisas que mais me encanta na fototerapia é ver como os animais aceitam bem o tratamento.
Durante as sessões, a maioria fica relaxada, alguns até adormecem, o que já é um sinal de conforto.
Entre as principais vantagens, destaco:
- Segurança: quando aplicada corretamente, é um procedimento sem riscos significativos e com raros efeitos colaterais.
- Ausência de dor: não há cortes, agulhas ou desconforto durante a aplicação.
- Recuperação mais rápida: a melhora nos tecidos é visível em menos tempo, o que significa menos sofrimento para o animal.
- Complementaridade: pode ser usada junto com medicamentos, fisioterapia, acupuntura e outras terapias.
- Adaptação para cada paciente: ajusto o protocolo conforme a espécie, tamanho e condição clínica.

Médica Veterinária, Doutora em Fototerapia e Fotobiomodulação pelo IP&D da Universidade do Vale do Paraíba e fundadora da Vetlaser.
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